domingo, 5 de abril de 2020

... aquela era uma viagem especial, foi uma viagem muito longa e passamos um dia inteiro atravessando a Bahia rumo a Brasília num ônibus surrado que batizamos de expresso morte inspirado no nome verdadeiro da companhia viária que era Expresso Norte, na madrugada o motorista voou baixo com aquela máquina corredora de estradas e o medo correu em nossos corações. O ano era 2004, um ano efervescente, ano que eu havia ingressado no movimento estudantil por mero impulso, onde havia um desejo iminente de mudanças, em que debatíamos a reforma universitária de Lula e que logicamente não estávamos em pleno acordo, apesar de nos identificarmos com a esquerda,  o mesmo direcionamento político do governo naquela época...(enfim a crítica tem sempre que existir e é por isso que existe a possibilidade da mudança almejada). Apesar dos 1635 quilômetros, distância entre Aracaju e o Distrito Federal, chegamos eufóricos, cidade nova, gente nova, mundo novo. O evento que fomos consistia em debater a reforma que se avizinhava com outros grupos de discussão do Brasil inteiro, vários partidos discutindo qual posição defender perante o governo, não foi algo fácil, descobri a existência dos interesses políticos, do arrebanhamento, não tínhamos um partido particular e estar nesse mundo foi algo de certo modo decepcionante porque não conseguíamos encontrar um consenso, ao final não conseguimos um num todo, mas muitos pontos estavam claros do que se tinha de mudar e nesse sentido foi positivo, na verdade foi ingenuidade minha crer que uma unicidade fosse possível... (talvez essa seja o maior chaga de nossa humanidade, a incapacidade da união). Mas além do viés político, essa viagem foi marcante não só pela incursão na militância mas pelo significado poético-musical, pois foi nela que me motivei definitivamente e decidi aprender a tocar o velho instrumento das massas, o violão. De certa maneira a música também é poesia na medida que nos permite transitar entre emoções e interpretações... a cena consistiu em um jovem tocando na frente do local do evento a música No woman no cry eternizada pela voz de Bob Marley, a qual transmite infindáveis sentimentos. Tanto pela sonoridade como pelo seu refrão marcante, a canção me marcou, não porque não a conhecesse mas porque a escutei sendo tocada singelamente naquela circunstância e ao chegar de viagem foi o primeiro riff que aprendi a tocar no violão o qual foi ensinado por um primo meu, canção que aprendi a tocar complemente e que às vezes toco cantando a versão de Gilberto Gil, a qual faz alusão aos anos de ferro vividos no Brasil, no período da ditadura militar. Hoje tocando essa canção, refleti no desdobramento histórico de 2020, na atrocidade desmedida do governo atual, principalmente agora em um tempo de pandemia viral, que muito diferente do ano de 2004 agora é de extrema direita, percebi que algumas canções são atemporais e que servem para refletir e nos acolher no presente histórico no qual nos encontramos, me acolheu antes na primeira viagem à capital do Brasil e me acolhe hoje.


No, woman, no cry
Autoria: 
Ou Bob Marley ou Vicent Ford, é uma incógnita.
(Gravada pela primeira vez em 1974)


No, woman, no cry
No, woman, no cry
No, woman, no cry
No, woman, no cry

I remember when we used to sit
In the government yard in trenchtown
Ob-observing the hypocrites
As they would mingle with the good people we meet
Good friends we have, oh, good friends we have lost
Along the way
In this great future, you can't forget your past
So dry your tears, I said

No, woman, no cry
No, woman, no cry
Oh, little darling, don't shed no tears
No, woman, no cry

Said I remember when we used to sit
In the government yard in trenchtown
And then georgie would make the fire lights
As it was logwood burning through the nights
Then we would cook cornmeal porridge
Of which I'll share with you
My feet is my only carriage
So I've got to push on through

But while I'm gone, I mean
Everything gonna be alright!
Everything gonna be alright!
Everything gonna be alright!
Everything gonna be alright!
I said, everything gonna be alright!
Everything gonna be alright!
Everything gonna be alright, now!
Everything gonna be alright!

So, woman, no cry
No, no, woman, woman, no cry
Oh my little sister, don't shed no tears
No, woman, no cry

I remember when we used to sit
In the government yard in trenchtown
And then georgie would make the fire lights
As it was logwood burning through the nights
Then we would cook cornmeal porridge
Of which I'll share with you
My feet is my only carriage
So I've got to push on through
But while I'm gone

No, woman, no cry
No, woman, no cry
Oh my little darling, don't shed no tears
No, woman, no cry

Eh (little darling, don't shed no tears!
No, woman, no cry
Little sister, don't shed no tears!
No, woman, no cry)


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