quarta-feira, 15 de abril de 2020

Relatório 1

... vira e mexe o medo de uma pandemia virótica pairou na nossa história recente, foi assim com o h1n1 em 2009, com o ebola que pipocou em 2014 no oeste africano... essa realidade ao final se concretizou e sem ter para onde correr agora a humanidade se vê de cara com o esparcimento voraz de uma variedade do vírus corona que na sua forma mais agressiva faz seres humanos perecerem com uma pneumonia aguda ... dada à gravidade e à sobrecarga nos sistemas de saúde, o resguardo intensivo tem sido adotado, inicialmente na China, para impedir a transmissão massiva, medida a qual é propagada e repetida milhares de vezes incessantemente ao longo dia nos meios de comunicação. Como nos filmes, que como videntes previram esse futuro ao qual alcançamos, nos deparamos com essa insólita condição, que irremediavelmente chegou, e não tem sido fácil viver nela... tudo de repente ficou estranho, o temor reclamou seu lugar e agora tutela nossas almas, agora, até o mais simples ato que representa a vida em si, que nos mantém vivos é o maior aliado da propagação virótica, respirar nos dá medo... nos dá medo respirar perto de alguém próximo que pratica a ação mais básica que é a comunicação verbal, tem-se que estar a mais de dois metros de alguém, apesar de que se especula que nem essa distância seja segura... quando em vias públicas, nos raros momentos em que se permite, toca-se tudo com temor, agora tudo está sujo e nenhuma superfície é mais segura. Para além das questões sépticas associadas ao vírus, também veio o tombamento econômico e precarização de vidas já precárias nos países periféricos, nesse sentido no Brasil que já é um campo de batalha político insano, aprofundado e radicalizado nos últimos cinco anos, passou-se a ocorrer debates intransitáveis (isso sim não previsto em nenhum filme ...), de pessoas a favor e contra a quarentena obrigatória, debates sobre o impacto econômico e o que priorizar se a vida de alguns ou a economia que por sua vez também conduz a vida de todos, usa-se exemplo de outros países, ricos e europeus diga-se de passagem, que demoraram a reagir e agora estão vivendo o quase apocalipse ... no Brasil a prevenção antecipada encabeçada por governadores e prefeitos choca-se com o posicionamento do presidente de extrema direita preocupado com o índice de crescimento econômico (não de desenvolvimento, que fique claro) agora diz se preocupar com os pobres, como se só agora fosse a hora de fazê-lo mas sem deixar de aumentar a morosidade da ajuda que deveria chegar-lhes o mais breve possível, o Brasil que está entre os 10 países mais ricos do mundo não tem recursos para apoiar os mais pobres? Esses sim estão beirando a fome e sim isso é um agravamento da reclusão generalizada obrigatória, perto disso a minha mera preocupação de estar a menos de dois metros de alguém se dissolve parcialmente. Além disso, junta-se também a todo esse caos a discussão com base em dados de outras doenças que nos acomete e arrebata a vida de milhares de humanos cotidianamente no mundo o tempo todo, diga-se de passagem pobres, as quais parecem ter sido quase ignoradas por não matar tanta gente de classes abastadas como agora ocorre (de fato elas foram a responsáveis por disseminar pelo mundo o vírus, também foram delas as pessoas que começaram a morrer, apesar de que nos EUA, maior potência mundial, os latinos e afroamericanos estão morrendo mais) ... são questões que não deixam de ser importantes e contribuem para a reflexão do valor de cada cidadão na sociedade, num sistema social dividido em classes as vidas têm sim valores diferentes ... claro que esse vírus é altamente contagioso e perigoso e sim são necessárias medidas de contenção, mas porque uma imensa massa desvalida morre diariamente e não há notoriedade? São questões para refletir ... a pandemia é um problema a mais para os pobres em muitos sentidos, eles sempre serão os mais afetados. Há pessoas que dizem que quando voltemos às ruas encontraremos um mundo diferente, em parte isso não é verdade porque o mundo a cada dia muda e nunca é o que deixou de ser, mas em parte não deixa de ser porque talvez passemos a encarar a realidade de outra maneira, com outras prioridades que não seja o consumismo e o imediatismo inerente do capitalismo, com um olhar mais humanitário e empatico? Enfim, esperança é esperança. Para bem ou mal o vírus, diminuto organismo acelular, mostrou o quão frágil é a nossa vida e a nossa organização social e o quão rápido mudanças podem ocorrer podendo mudar nossas vidas para sempre.