sábado, 18 de abril de 2020

Divagações sobre a nossa falsa vida virtual

Há muito tempo reflito sobre o impacto do uso das redes sociais na nossa saúde psicológica, apesar de usar de modo ainda intermitente o facebook, e após várias desativações e ativações da conta, não tive ainda o valor de eliminá-la permanentemente, fiz sim isso uma vez mas voltei atrás e criei outra conta. Antes das redes se popularizarem a exemplo do orkut (RIP), do próprio facebook e do instagram (o qual não tenho e não terei), o bacana era ter blogs como este (contexto em qual esse foi criado!) cujo o intuito, ao meu ver, era passar alguma ideia própria, dizer algo. As redes sociais, cujo propósito difere substancialmente de um blog e nem sei se cabe comparar, se tornou em um fast food da vida onde se consome a vida do outro instantaneamente bem como oferecemos a nossa vida para ser consumida do mesmo modo ... lógico que elas podem ser utilizadas para outros intuitos e o é, o facebook, por exemplo, tem sido usado para se obter e propagar notícias ou até mesmo vídeos virais digeridos e esparcidos num piscar de olhos, sem muita reflexão, mesmo quando compartilhamos algum conteúdo para militar em algo considerado relevante muitas vezes não o fazemos para mais além, além do comodismo de estarmos em nossas cadeiras só clicando em um botão. Há muitos aspectos não positivos nas redes sociais, logicamente há pontos positivos mas, ao meu ver, não são superados porque frequentemente são contraditórios. O ponto mais negativo, considero eu, é o de sentir que não se está vivendo a vida que se deveria, e isso ocorre tanto ao olhar a evolução da própria vida como a dos outros...
...Uma análise histórica de atividades da própria vida pode implicar um olhar nostálgico e saudosista do passado o que pode gerar desconformidade como o presente que se vive, frequentemente desejamos o que não temos, seja um elemento do passado ou do futuro, isso porque somos motivados por uma fonte inesgotável de desejos os quais nos podem gerar sofrimento (ensinamento budista ao qual estou de acordo), desejamos viver aquilo que já vivemos como estar em certas circunstâncias e lugares, estar com certas companhias ou até mesmo ter um padrão físico que não se tem mais, resultamos sofrendo. Não que olhar para o passado seja proibido mas o contato constante com o mesmo por meio de uma plataforma digital pode não ser saudável já que nos mantém em  contato constante com um tempo que já passou tirando o foco do presente. Já o olhar da evolução da vida alheia sob uma ótica superficial imediatista gera uma percepção de que a mesma é mais interessante do que a própria vida isso porque não costumamos querer compartilhar o que ocorre de ameno ou até mesmo de desastroso em nossas vidas mas sim o que ocorre de melhor passando precisamente uma imagem de constante felicidade que frequentemente é falsa gerando um conflito com a própria realidade. Na verdade as redes têm servido como um instrumento para alimentarmos nosso próprio ego, uma espécie de narcisismo, e que alimenta uma falsa ideia de felicidade constante... me lembro de um caso, o de uma vizinha que se tornou posteriormente uma amiga que em seu instagram demonstrava uma vida feliz rodeada de gatos através de magníficas fotos filtradas quando na realidade tomava remédios para poder lidar com a realidade nua e crua, ou até mesmo de dois amigos que apesar de postar sobre suas conquistas acadêmias e viagens pelo mundo em paisagens de tirar o fôlego vivem em depressão e momentos de infelicidade que não se dissipam. O olhar para outras vidas sem profundidade pode levar a sentirmos que não estamos no Caminho que deveríamos estar, que nossas escolhas não foram as mais apropriadas, quando na verdade temos que sermos responsáveis pelas mesmas e aceitá-las com serenidade para uma vida mais harmoniosa (inspiração no ensinamento do Tao). Frequentemente é comum sentir que viver não é algo simples e fácil uma vez que implica constantemente superações e desafios tanto materiais como espirituais (no sentido de querermos ser melhores humanos) e a inveja da vida alheia pode resultar no desmoronamento do próprio propósito de vida o qual cada um tem um e é incomparável, afinal ninguém é igual a ninguém, portanto, a vida de ninguém também será igual sendo assim nunca caberá comparações.